Troca de experiências e superação marcam Mostra de Circo Social em Toledo


Foto: Divulgação

“Um evento como este proporciona uma troca de experiências muito ampla, não somente para os instrutores, como também para as crianças e mesmo para os artistas, que têm a oportunidade de se reencontrar e ver novas linguagens artísticas sendo utilizadas”. A avaliação é do professor da Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro, atualmente licenciado para fazer o seu doutorado na área, Alex Machado. Todos os anos, desde a sua primeira edição, ele vem a Toledo para participar da Mostra de Circo Social e Festival Nacional de Circo. Segundo ele, é uma troca de experiências muito enriquecedora e prova disso é a evolução dos grupos ao longo dos anos, conforme ele tem acompanhado.

Todos os anos o professor faz questão de reservar um espaço na agenda para vir a Toledo. Ele tem a possibilidade de rever amigos de longa – entre eles a família de Dado Guerra e Tânia Piazetta, e também avaliar a qualidade do trabalho dos projetos sociais e dar a sua contribuição para o que pode ser melhorado. “A gente tem observado um crescimento grande a cada ano, especialmente com relação a segurança das crianças, algo que sempre frisamos. A prática circense tem um certo risco e é preciso tomar todas as preocupações para evitar acidentes”, observa.

Ele destacou também que cada grupo tem uma realidade diferente e esta troca de experiências e saberes permite a cada um avançar, dentro das limitações que possuem. Uma das dificuldades é a falta de aporte de recursos, tanto da iniciativa privada como pública. Apesar de cada vez mais perceberem a importância do circo social como ferramenta de desenvolvimento das crianças e adolescentes, ainda não existe o aporte necessário de recursos para garantir uma estrutura mínima para um atendimento mais efetivo. São necessários equipamentos, espaços adequados, qualificação de profissionais, recursos para deslocamentos, entre outros que demandam investimentos. Ainda assim, ressalvou ele, o circo persevera e vai se adaptando conforme as necessidades.

Ao mesmo tempo, ele percebe o esforço dos grupos para melhorar as suas estruturas de treinos e apresentações, mesmo com as limitações financeiras impostas. Todo o ano existe uma preocupação grande dos instrutores em relação a qualidade artística dos trabalhos apresentados, considerando aspectos como figurino, música, adereços e cenários.  Ele acredita que a forma como é constituída a comissão e a premiação dos participantes serve de estímulo para produzir algo a mais a cada ano. “É uma competição saudável entre os grupos que estimula a melhorar a cada edição da Mostra.

Para as crianças também é uma oportunidade singular, com um espaço adequado para as apresentações, e uma plateia gigante e atenta a cada movimento no palco. Eles têm ainda diferentes possibilidades de interações com outras crianças de grupos locais e de outras cidades, bem como com artistas de renome que fazem parte dos espetáculos do festival. “É um convívio muito próximo e enriquecedor”.

Controle da ansiedade

No mundo acelerado que vivemos hoje, Alex Machado acredita que o circo possa ser um importante aliado neste processo de controle da ansiedade. “As crianças e jovens de hoje, e até adultos, têm uma dificuldade muito grande. Eles simplesmente não aceitam esperar. Não percebem que para chegar a um determinado ponto do seu desenvolvimento é necessário passar por um processo, é preciso muito treino e disciplina. Nada é de uma hora para outra”, afirmou. Ele pode constatar na prática na Escola Nacional de Circo, no Rio de Janeiro-RJ, onde trabalha. Em uma das últimas turmas que atendeu, alunos na faixa dos 19 aos 34 anos de idade mostraram-se muito contrariados com prazos, processos e disciplina. “Eles são muito imediatistas e não aceitam os processos que têm que ser percorridos para atingir determinados objetivos”.

O circo social, defende ele, pode auxiliar as novas gerações a desacelerar e reduzir a ansiedade de crianças e jovens, hoje muito conectadas ao universo online e a rapidez de informações que a internet oferece. Mas eles precisam entender que no dia a dia as coisas nem sempre são desta forma e que é necessário passar por desafios, frustrações, muito treinos e bastante rigor e disciplina até chegar aos 30 segundos perfeitos mostrados nos posts das redes sociais.

“O circo ensina que as coisas acontecem somente no seu tempo, depois de ter percorrido um longo processo. Não tem como pular etapas”. Além disso, continua ele, a dedicação total que os exercícios exigem precisa que o aluno esteja realmente focado no que está fazendo, sob pena de sofrer as consequências desta sua desatenção. “Você tá fazendo uma atividade que exige muita concentração. Não tem como fazer um salto e conferir a mensagem no instagram ao mesmo tempo. Ou você se concentra no que está fazendo, ou corre o risco de cair e se machucar. A falta de foco entre as crianças e os jovens vem sendo apontada como um grande problema e esta questão pode ser trabalhada pelo circo de uma forma lúdica”.

Escola de Circo

Fundada em 1982, vinculada a Fundação Nacional de Artes do Ministério da Cultura, a Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro é a segunda do país e mais antiga. Oferece cursos técnicos em nível médio, desde 2015, ou qualificação em determinadas áreas conforme o interesse dos artistas. Com aulas integrais, uma das maiores dificuldades dos artistas é se manterem durante o período de formação. Uma novidade neste ano é a abertura de edital para bolsas para a seleção de alunos para o curso de residência artística. As bolsas anteriores eram somente para alunos dos cursos técnicos profissionalizantes. Com a nova modalidade, os alunos poderão se especializar em uma determinada área, dedicando-se integralmente. Todos os alunos que frequentam a Escola Nacional de Circo recebem bolsa integral para poderem dedicar-se integralmente ao curso durante a sua realização.

A edição de 2024 da XVIII Mostra de Circo e XI Festival Nacional de Circo de Toledo foi viabilizada através de edital de N° 012/2023, com recursos da Lei Complementar de N° 195/2022 - Lei Paulo Gustavo.

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